domingo, 21 de fevereiro de 2010

O medo da idade

   
  
   Costumava ver o meu avô bem e sempre a trabalhar, nunca parava. Costumava brincar comigo “às professoras e aos alunos”. Ele era o aluno. O meu avô estava sempre a ler qualquer coisa. Em casa da avó Chica havia sempre jornais, porque o avô gostava muito de ler. E conduzia! O meu avô conduzia camionetas grandes e eu adorava aquilo!

   Um dia o meu avô começou a conduzir menos e a ver mais televisão. Deixou de querer brincar comigo e já não lia mais. Os movimentos eram pouco seguros e ficavam-lhe presos. Deixou de conseguir subir escadas.

    Um dia disseram-me que o meu avô tinha Parkinson.

   A minha avó trabalhava muito. Passava a vida nas sortes e nas hortas a tratar de tudo quanto era legume, flor e árvore. A minha avó fazia-me as vontades todas. A avó Ana ia todos os santos Domingos à missa. A avó palmilhava a vila de uma ponta a outra, ia sempre a pé para o campo e recusava-se a ir para o lar porque “Deus me livre sair da minha casinha!”.

   Um dia a minha avó começou a deixar de ir para o campo, principalmente a pé. Começou a passar mais tempo em casa e cansava-se de andar. Começou a esquecer-se de coisas. A minha avó deixou de ir à missa e quis ir para o lar.

   Um dia disseram-me que a minha avó tinha Alzheimer.

   Um dia disseram-me que as doenças crónicas eram degenerativas.

   Um dia acordei com medo de um dia tremer e não me lembrar porquê….

13 comentários:

Raquel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cláudia disse...

está muito bonito Diana, mesmo!! :)

Diana disse...

Obrigada meus amores! (apesar de n tar assim tao bonito quanto isso)
E, Raquel, é bonito mas é com x... teXto ;p (sorry)

Johnny disse...

A parte de já não me lembrar não me assusta tanto como aquela em que ainda nos lembramos, mas tudo começa a ficar confuso.

Anónimo disse...

gostei :P ves k tens coizo p escrever... em relação a preocupaçoes k a idade.. dont worry..just be happy.. acontece a todos, todos os dias.. i n s pode viver a pensar nisso :P

Raquel disse...

*Bonito texto!

Diana disse...

Mas a parte em que não te lembras e sofres por não o conseguires fazer também assusta um bocado :x


tks, tks :)

Anónimo disse...

assusta pois.. mas se se for a pensar nisso..n se vive o hoje, e amanha pode ser too late ;)

Brown Eyes disse...

O meu avô também conduzia camionetas. Morreu com 89 anos, de um momento para o outro, lúcido e com muita força. Rebentou-lhe o fígado. Nunca bebeu e fez sempre uma vida regrada. O que tiver que ser será, não adianta preocupares-te. Beijinho

Olga Mendes disse...

Todos têm medo de algo nesta vida. Até o ano passado morria de medo de um dia não saber voltar para casa, porque me esquecia de tudo com grande facilidade. Após fazer a minha cirúrgia à cercival (7 meses atrás) e ter pensado que poderia nunca mais acordar da anestesia, deixei de pensar no dia de amanhã e viver o dia de hoje. Adorei a tua crónica, escreves muito bem. Parabéns.

Diana disse...

Brown Eyes,
é veradde, o que tem de ser, acaba por acontecer mas por vezes é inevitável não pensar nisso sem ficar assustada. De qualquer forma, e felizmente, não acontece muitas vezes :)

Olga,
por vezes é preciso um "pequeno" toque para nos fazer perceber que temos de aproveitar e dar valor ao presente. Talvez venha daí o "há males que vêm por bem", há males que vêm para nos ensinar a viver. Obrigada pela partilha e também pelo elogio que, de qq forma, não me parece merecido ;p

Raquel disse...

"A Morte é só não ser visto"

Por entre o luar disse...

Gostei =)

*

"Para ser grande sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
R.Reis